04/04/16 – Dia da vergonha e da impotência europeia diante da crise dos refugiados
A edição do jornal catalão ARA desta terça-feira (05) traz uma contundente assertiva. “Europa está muito equivocada se pensa que as expulsões resolverão o problema”, numa referência às primeiras deportações de refugiados feitas sob a égide do polêmico acordo fechado entre União Europeia e Turquia como forma de fechar a rota migratória no Mar Mediterrâneo. E salpica no título do seu editorial: “4 de abril: dia da impotência europeia“.
Foi neste dia, nas primeiras horas da manhã, que tiveram início as primeiras expulsões de Lesbos para a Turquia. Da ilha saíram 136 pessoas, a maioria oriunda do Paquistão, Baglandesh e Marrocos, que segundo as autoridades não eram demandantes de asilo e foram obrigados a desembarcar no porto turco de Dikili. Um outro barco transportou 66 pessoas da ilha de Quios com o mesmo destino.
A operação, coordenada por agentes da Frontex, a agência europeia que coordena os traslados forçados, foi considerada tranquila, uma vez que não havia crianças nem pessoas provenientes de áreas de conflito. Contudo, não se sabe se as próximas transcorrerão da mesma forma. Visto que os próximos contingentes incluem sírios e afegãos, famílias inteiras, com anciãos e crianças, atualmente retidos no campo de Mória, onde estão 3,3 mil pessoas.
Um dos questionamentos do jornal ARA chama à reflexão: “Será difícil que estas imagens (dos deportados à Turquia) sejam compensadas pela chegada aos países europeus de refugiados sírios provenientes dos campos de acolhida a Turquia, como também prevê o acordo”. No mesmo dia 4 de abril, 32 sírios chegaram a Alemanha e 11 à Finlândia, no marco do pacto que estabelece que para cada sírio deportado de solo europeu se acolherá um dos que estão nos campos turcos.
O ARA enfatiza no editorial que o destino dos expulsados é duplamente triste. “Num dia vão arriscar suas vidas no mar Egeu para chegar a Europa fugindo da guerra e da barbárie do Estado Islâmico e de Baixar al-Assad. E agora retornam a um país, Turquia, do qual um dia tentaram fugir também”.
Quando fala do equívoco dos 28 estados que formam a UE, o jornal afirma: “As máfias buscarão com afã novas vias de entradas irregulares”. O jornal também não crê que a medida apaziguará a direita populista. “Ao contrário, ainda terá mais motivos para continuar sua campanha de medo”.
O parágrafo final do editorial não é menos contundente: “O 4 de abril, então, será recordado como o dia da vergonha e da impotência da Europa, incapaz de dar uma resposta a emergência humanitária que esteja à altura dos seus valores, de encontrar uma solução, juntamente com os Estados Unidos, para a origem do problema: a guerra na Síria”.
Concordo em gênero, número e grau com o jornal ARA.
