Brexit abre guerra entre Reino Unido e Espanha por causa de Gibraltar. Escócia e Catalunha no tabuleiro
Manobra política da Espanha junto ao Conselho Europeu (CE) está gerando tensão por conta do território de Gilbraltar, sob jurisdição do Reino Unido. O governo de Madri convenceu o presidente do CE, Donald Tusk, a incluir na proposta de orientações para as negociações do “Brexit” uma cláusula atestando que “nenhum acordo entre a UE e o Reino Unido pode aplicar-se ao território de Gibraltar sem o acordo bilateral entre Espanha e o Reino Unido”.
Se a cláusula for mantida na versão final do texto, que será votado em 29 de abril pelos demais 27 Estados-membros, Madri obterá direito de veto sobre o futuro econômico de Gibraltar. Com uma população de pouco mais de 32 mil pessoas, a ilha é território britânico desde 1713, mas Espanha reclama a soberania sobre o “Rochedo”.
Para evitar a sua exclusão de um acordo econômico, Londres teria de aceitar negociações bilaterais com Madri sobre o estatuto do território, apesar de a Constituição local sustentar que esse estatuto só pode ser alterado por consentimento da população, que num referendo realizado em 2002 manifestou-se contra (99%) o princípio da soberania partilhada.
As reações às propostas foram imediatas. Uma das mais contundentes partiu de Michael Howard, antigo dirigente do Partido Conservador. Ele afirmou que a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher recorreu à força militar para responder à invasão das Falkland (Malvinas) pelas forças argentinas há 35 anos e que a atual primeira-ministra, Theresa May, devia “mostrar a mesma determinação” em relação a Gibraltar.
Theresa May insistiu que “nunca” permitiria que Gibraltar escapasse ao controle britânico e o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, afirmou que “Gibraltar não está à venda”. Johnson destacou que a posição de Londres é “muito, muito clara”, de que “a soberania de Gibraltar não mudou e não vai mudar”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, lamentou o tom inflamado. Acho que alguém no Reino Unido perdeu a calma e não há nenhuma razão para isso”, disse o chefe da diplomacia espanhola. Dastis é o mesmo numa entrevista, sábado ao jornal El País, enviou outra farpa a Londres, ao afirmar que Espanha não vetaria o processo de adesão à UE da Escócia se esta se tornar independente.
Outro ponto de discordia entre Londres e Madri se refere à pretensão independentista da Escócia, que deseja manter-se dentro da União Europeia após o Brexit. Por lidar a nível interno com as pretensões soberanistas da Catalunha, que também almeja um referendo sobre o tema, a Espanha despontava como um obstáculo aos escoceses. Entretanto ontem deu um primeiro sinal de abertura. “Inicialmente não penso que bloquearíamos”, afirmou ao El País Alfonso Dastis.
O ministro espanhol ressaltou contudo que primeiro a Escócia terá de deixar o bloco juntamente com o Reino Unido, ressaltando que Espanha “não vê com bons olhos que nenhum Estado europeu inicie processos de fragmentação”. Após o referendo de 2014 – no qual o não venceu com 55,3% – o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que a independência da Escócia seria uma catástrofe que poderia causar a desintegração europeia. Um tom que tem suavizado desde que o Reino Unido votou para sair da UE.