Irrupção da extrema direita ofusca vitória de Merkel na Alemanha
Chancelar vence eleições alemãs, renovando mandato pela quarta vez. Contudo, extrema-direita volta ao parlamento pela primeira vez após Segunda Guerra Mundial
A Alemanha concedeu outro mandato a Angela Merkel, de 63 anos. A atual chanceler, da União Democrata Cristã (UDC) há 12 anos no poder, ganhou as eleições federais com 33,5% dos votos, segundo as projeções difundidas até às 23h30 no horario local (18h30, em Brasília) pela televisão pública ZDF. Foi seguida pelos sociais-democratas do SPD (20%) e pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita.
O partido da chancelerl ficou com resultados abaixo do esperado e a extrema-direita com votos acima dos 13%. Tal notícia confirma a entrada na Bundestag (Câmara baixa) pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial de um partido ultranacionalista e de extrema direita, como é AfD, de Alexander Gauland. A formação populista, que com seu discurso nacionalista, antiimigração e antiislamista se beneficiou das críticas à gestão migratória da chanceler, desponta como a terceira força mais votada.
O partido liberal (FDP) chegará aos 10%, de acordo com os dados divulgados pela cadeia televisiva, enquanto a esquerda e os Verdes ficarão empatados com 9% dos votos. Esses resultados são muito semelhantes à sondagem divulgada ao mesmo tempo pela televisão ARD, que atribui ao bloco conservador 32,5% dos votos, seguido pelo Partido Social Democrata (SPD) de Martin Schulz, com 20%, e da AFD, com 13,5%.
A esquerda ficou com 8,6%, enquanto os Verdes obtiveram 8,4%. Tanto o FDP como o AFD, então um partido essencialmente eurocético, ficaram pouco abaixo do limite mínimo de 5% exigido para a eleição parlamentar.
Com isso, o próximo Bundestag terá seis grupos parlamentares e, portanto, será o mais diversificado em termos de número de formações desde a década de 1950.
Tal resultado representa o naufrágio do SPD, sob a liderança de Martin Schulz, naquele que poderá ser o pior desempenho na história do partido. Os principais partidos também sofreram um declínio acentuado em relação às eleições gerais de 2013, ano em que a UDC de Merkel e o seu aliado na última legislatura (CDU /CSU) obtiveram 41,5% e o SPD 25,7%.
ICÓGNITA – O partido de Merkel precisa formar coalizão coma o menos um dos outros partidos para chegar à maioria parlamentar de 316 cadeiras, já que elegeram 218 deputados. Após saber dos resultados, Martin Schulz, que conseguiu para seu partido 138 assentos no parlamento, descartou unir-se à Grosse Koalition (governo formado pelos dois partidos mais votados), o que deixa no ar a icógnita de quem serão os sócios do governo.
Consciente do resultado, Merkel indicou que seu partido está diante de uns “desafíos extraordinários”, após reconhecer que esperaba melhores resultados. A chanceler tentará “reconquistar” os cidadãos que tradicionalmente votavam no seu bloco conservador e que agora optaram pelos ultradireitistas. Se trata de “atender a suas preocupações e também seus medos”, argumentou.
Merkel chegou ao poder em 2005 depois de derrotar o então chanceler Gerhard Schroder, tendo depoois derrotado Frank-Walter Steinmeier, em 2009, e Peer Steinbrück, em 2013.