Puigdemont declara independência da Catalunha, mas suspende efeitos em busca de diálogo
Presidente catalão suspende efeitos da declaração de independência à espera de diálogo com a Espanha. Primeiro ministro Mariano Rajoy, que segue uma linha repressiva, tem agora a bola no seu campo de jogo
Num gesto de diálogo, o presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, fez a esperada declaração de independência, mas imediatamente suspendeu seus efeitos à espera de negociação. A decisão foi comunicada no pleno pouco depois das 19h (14h no horário de Brasília), num discurso em que afirmou que “com o resultado de 1º de outubro a Catalunha ganhou o direito de ser um estado independente, de ser escutada e respeitada”.Desta forma, decidiu seguir o que analistas internacionais estão chamando de “via eslovena”. A Eslovênia tomou uma decisão semelhante quando declarou a independência, em 1991, e funcionou, ganhando em pouco tempo o reconhecimento europeu.
Desta forma, o líder catalão joga a bola para o campo do adversário, colocando o primeiro ministro Mariano Rajoy fica em evidência. Haveria pesado na decisão de Puigdemont o apelo do presidente da União Europeia (UE), Donald Tusk, feito uma hora antes de começar o pleno no parlamento em sua conta do Twitter. Tusk escreveu: “Apelo a Carles Puigdemont a não anunciar uma decisão que impossibilitaria o diálogo. Vamos sempre olhar para o que nos une. Unidos na diversidade”.
O discurso de Puigdemont foi acompanhado por mais de mil jornalistas credenciados para a sessão e pela multidão que se reuniu no passeio Lluís Companys. O líder catalão disse estar assumindo “o mandato do povo”, resultante do referendo de 1º de outubro, que o Tribunal Constitucional espanhol considerou ilegal.
Ao solicitar a suspensão dos efeitos dessa declaração disse que estava abrindo uma “janela de diálogo que propicie a resolução do conflito entre a Catalunha e Espanha”. E defendendo um processo “sereno e pactuado”.
Puigdemont dedicou uma parte do discurso a explicar historicamente o processo soberanista, enumerando um memorial de agravos provenientes de Espanha nas décadas recentes. Descreveu de forma detalhada a desilusão provocada em muitos cidadãos pelos contínuos entraves do Estado central às tentativas de adaptar o Estatuto de Autonomia aos tempos correntes e às exigências de autogoverno de uma ampla maioria de catalães.
“Não somos delinquentes, não somos golpistas, não somos loucos”, destacou ao pedir que o governo espanhol se pronuncie. As primeiras declarações vieram da vice-presidenta do governo, Soraya Saenz, que disse que Puigdemont “não sabe de onde vem nem para onde vai”. Rajoy convocou para esta quarta-feira uma reunião do Conselho de Ministros.
A intenção de Rajoy é aplicar o artigo 155 da constituição e suspender a autonomia da região. Também planeja aplicar um estado de exceção, no qual seria possível a prisão de Puigdemont, a dissolução do parlamento catalão e a convocação de novas eleições.