Puigdemont segue a “via eslovena” ao declarar e suspender independência da Catalunha

A análise abaixo foi publicada na edição impressa do Jornal do Commercio (Brasil), onde relato a busca do presidente catalão por mediação internacional após declarar e suspender independência. Para ler o texto no JC, com acesso restrito a assinantes, é possível através do link Catalunha busca o diálogo

O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, decidiu seguir o que analistas internacionais estão chamando de “via eslovena” ao declarar a independência da Catalunha e em seguida suspender seus efeitos para negociar com a Espanha. A Eslovênia tomou uma decisão semelhante quando declarou a independência, em 1991, e funcionou. Contudo, é preciso remarcar que à época já controlava seu território completamente e já havia uma mesa de negociação formada. Além disso, houve um conflito armado sangrento.
No caso da Catalunha, pesou a declaração do presidente da União Europeia (UE), Donald Tusk, feita uma hora antes de começar o pleno no parlamento em sua conta do Twitter. Tusk escreveu: “Apelo a Carles Puigdemont a não anunciar uma decisão que impossibilitaria o diálogo. Vamos sempre olhar para o que nos une. Unidos na diversidade”.


Assim, foi mais longe que Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia (CE), que durante todos os últimos dias se manteve públicamente equidistante do caso catalão, a pesar da tensão crescente.
Vicent Partal, jornalista especializado em política internacional, explica que “a via catalã não é a eslovena, mas pode funcionar como tal”.

“Durante as próximas horas e dias comprovaremos se a Europa finalmente coloca o pescoço na questão ou se apenas queria evitar a declaração de independência”, escreveu Partal no jornal digital Vilaweb.

Além disso, será o tempo de comprovar se a Espanha reage violentamente ou se rebaixa a tensão. A Eslovênia aceitou suspender a independência convencida de que demonstraria ao mundo o autoritarismo iuguslavo e que isso lhe facilitaría a entrada na comunidade internacional.
HISTÓRIA – A Eslovênia fez uma declaração unilateral de independência em 25 de junho de 1991. Dois dias antes, a Comunidade Europeia (CE) e os Estados Unidos haviam afirmado categoricamente que davam apoio à unidade da Iuguslávia. E que nunca reconheceriam uma Eslovênia independente, segundo palabra do então presidente do grupo, Jacques Delors.
A declaração independentista havia sido precedida de dois referendos com resultados favoráveis bem claros. Antes de aplicá-los, a Eslovênia havia proposto uma negociação com o governo iuguslavo que foi rechaçada. Após a decisão do presidente esloveno Milan Kuçan, teve início a chamada Guerra dos Dez Dias, quando exército iuguslavo se confrotou com a população e soldados eslovenos. As imagens deram volta ao mundo.
A Comunidade Europeia conseguiu negociar um cessar fogo e o compromisso da Eslovênia de suspender a declaração de independência por três meses. Com mais de cem mortos no conflito armado, foi então que os Estados Unidos e a Alemanha consideraram a independência da então região iuguslava era inevitável.
Pouco a pouco, outros estados europeus e do mundo foram reconhecendo o estado esloveno, que hoje é membro da União Europeia e pertence à zona do euro. Um país que mantém fortes relações comerciais com Alemanha e Áustria, com um crescimento econômico estável.

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