Intervenção do governo espanhol rechaçada em manifestação gigante na Catalunha
Cerca de 450 mil pessoas se manifestaram contra intenção do governo espanhol de cessar presidente Puigdemont, controlar ações do parlamento e gerir meios de comunicação públicos. Ato em Barcelona foi convocado contra prisões de Jordi Sànchez e Jordi Cuixart, líderes independentistas acusados de sedição
“Liberdade”. Este foi o grito ouvido nas ruas de Barcelona em resposta ao anúncio de intervenção no governo e no parlamento da Catalunha feito neste sábado pelo primeiro ministro da Espanha, Mariano Rajoy (PP). As 450 mil pessoas que compareceram à manifestação contra a prisão dos líderes independentistas Jordi Sànchez (Assembleia Nacional Catalã) e Jordi Cuixart (Òmnium) aproveitaram para expresar o repúdio à decisão.
Rajoy planeja cessar Puigdemont e seus secretários dos cargos, assumindo ele próprio o executivo catalão. Também o controle do parlamento, que ficaria impedido de tomar qualquer decisão sem anuência de Madri. O governo espanhol quer ainda gerir os meios de comunicação públicos, constituídos pelo canal TV3 e a estação Catalunya Ràdio.
As medidas, que serão votadas pelo Senado, até a sexta-feira, foram anunciadas por Rajoy pela manhã após reunião do Conselho de Ministros da Espanha, em Madri. À tarde, as ruas centrais de Barcelona foram invadidos por um mar de gente, atendendo a convocação do moviminto Mesa pela Democracia em repúdio à prisão dos Jordis. Com a notícia dada por Rajoy, os manifestantes demonstraram ainda mais indignação contra o governo espanhol.
Além das famosas bandeiras independentistas, muitos empunhavam cartazes com a mensagem: “Liberdade Jordis, presos políticos do estado espanhol”, escrita em catalão e em inglês. Outras diziam “Help Catalonia” e “Save Europe”. A multidão repetia a cada momento: “Liberdade, liberdade”, em referencia aos Jordis e à Catalunha.
O presidente Carles Puigdemont junto com a presidenta do parlamento, Carles Forcadell, membros do governo e deputados encabeçaram a linha de frente do ato. De frente para o palco, ouviram os discursos dos representantes da ANC, da Òminum e da Mesa pela Democracia. A manifestação contou com o apoio de mais de 140 entidades da sociedade civil.
SOBERANIA POPULAR – O porta-voz da Òmnium, Marcel Mauri, referiu-se aos Jordis como “dois homens bons, dois homens de paz”, que agora “são dois presos políticos”, acusando o governo espanhol não perdoá-los por organizarem manifestações pacíficas e defenderem a independência da Catalunha.
Mari disse que com a repressão o governo central não conseguirá nada e que com a decisão de hoje o que fez foi acabar com democracia na Espanha. “As instituições são nossas, somos nós, nenhum governo pode suspender a soberania popular”, enfatizou, arracando aplausos da multidão, que gritava “Não estão sozinhos”.
O vice-presidente da ANC, Agustí Alcoberro, se solidarizou com os familiares de Sànchez e Cuixart, referindo-se à prisão dos dois líderes como “ultrage e humilhação”. “Não haverá passos atrás. Aqui há uma pedreira”, disse em referência aos catalães.
Para Alcoberro, a aplicação do artigo 155 pleiteada hoje é um novo passo na escalada repressiva contra a Catalunha. “O governo espanhol quer nos liquidar (povo catalão), mas isso não acontecerá porque nós não deixaremos”, assegurou.
A atriz Lloll Bertran leu um manifesto em repúdio à prisão dos Jordis e contra o artigo 155. “Hoje também estamos aqui para repudiar o 155, que visa destituir um governo escolhido democraticamente e intervir nas instituições de maneira injustificada, deixando nas mãos de Mariano Rajoy todo o poder sem que ele tenha sido escolhido para isso”, disse.
“A Mesa pela Democracia não aceita esta decisão do Conselho de Ministros e continuaremos nos mobilizando nas ruas”, disse Bertran, ao pedir o retorno de Cuixart i Sànchez à casa.
A manifestação foi encerrada com a atuação da cantora Maria del Mar Bonet, que interpretou a canção “Que quer esta gente?”, escrita durante o período da repressão franquista, e com o Canto dos Segadors, mítico hino independentista. A interpretação fez muita gente ir às lágrimas.