República da Catalunha saudada entre lágrimas e risos
Primeiro ministro espanhol convoca eleições autonômicas para 21 de dezembro na tentativa de barrar consolidação da república catalã, proclamada nesta sexta-feira, 27 de outubro. Multidão foi às ruas comemorar desconexão almejada há mais de 300 anos
O grito de celebração engasgado na garganta no último dia 10 de outubro ecoou nas imediações do parque Ciutadella nesta sexta-feira, 27 de outubro, quando foi aprovada a proclamação da república pelo Parlamento da Catalunha. O sonho de desconectar-se da Espanha, alimentado há mais de 300 anos, se concretizou com o voto favorável de 70 deputados à resolução que afirma “que a República Catalã se constitui como um estado soberano e independente”. Dez deputados votaram contra e dois em branco.
As lágrimas da emoção inicial fora substituídas por sorrisos e abraços dentro e fora do parlamento, convertendo-se em uma grande festa. Que se transferiu para a praça Sant Jaume, em frente ao Palácio da Generalitat, sede do governo catalão, onde muitos ainda permaneciam passada a meia-noite.
A nova república catalã tem agora o desafio de manter-se íntegra, uma vez que o primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy recebeu aval do Senado para aplicar o artigo 155 da constituição para “restabelecer a ordem”. Com isso, anunciou que dissolverá o governo de Carles Puigdemont e o parlamento, extinguirá representações diplomáticas no exterior e realizará eleições autonômicas em 21 de dezembro. A reunião em Madri aconteceu em paralelo à realizada no parlamento catalão.
Analistas avaliam que vencerá esta batalha política quem conseguir impor o seu relato dos fatos. O governo catalão conta com um importante apoio popular, que está se organizando para resistir e proteger, pacíficamente, as instituições. Também com uma frente diplomática que trabalha em busca de reconhecimento internacional. Os parlamentos da Filândia, Estônia, Eslovênia e Argentina estudam moções de apoio à Catalunha.
A Espanha tem a seu lado a Comunidade Europeia (CE), que mantém a posição de defesa da legalidade espanhola. Contudo, recomendou a Mariano Rajoy que evite ações violentas. O recado foi dado pelo presidente da CE, Donald Tusk, que através do Twitter instou primeiro ministro a evitar “o argumento da força e recorrer à força do argumento” para resolver a questão.
Isso para evitar ataques contra a população civil, como ocorreu em 1º de outubro durante a realização do referendo. Na ocasião, agentes da Guarda Civil e Polícia Nacional feriaram mais de mil pessoas numa investida brutal contra os eleitores.