Declaração de independência nas mãos do Parlamento da Catalunha
Depois de dia tenso, no qual o presidente catalão Carles Puigdemont acenou com eleições autonômicas para frear intervenção de Madri, sonho de independência segue vivo. Parlamento catalão decidirá sobre o tema em sessão que coicidirá com votação no Senado para avaliar ações propostas por primeiro ministro Mariano Rajoy contra Catalunha
A Catalunha viveu um dia de infarto. O presidente Carles Puigdemont foi o protagonista da jornada, que começou com a notícia de dissolução do parlamento catalão e convocação de eleições autonômicas. Proposta que teria sido pactada para o governo espanhol desistisse da intervenção no autogoverno catalão, que estava sendo analisada em sessão no Senado, em Madri.
A notícia vazou no por volta das 12h, quando estudantes universitários protestavam contra a prisão dos líderes independentistas Jordi Sànchez e Jordi Cuixart no centro de Barcelona. E pouco antes do início previsto da sessão no parlamento catalão que avaliaria a proposta de declaração de independência.
Em poucos minutos, o entorno independentista virou de cabeça para baixo. Integrantes de partidos políticos, entidades da sociedade civil e de diversos outros coletivos lançaram farpas através das redes sociais contra Puigdemont. Que foi chamado de “traidor”, “vendido” e indigno de representar o mandato popular que se comprometeu a respeitar a decisão dos que enfrentaram a fúria policial e votaram pelo sim à independência no referendo de 1 de outubro.
Os estudantes mudaram o roteiro da passeata e se dirigiram à praça Sant Jaume, onde fica a sede do governo catalão, para exigir a proclamação da república. Muitos ainda atônitos com a possibilidade de rendição do governo catalão ao cerco de Madri. Outros manifestantes se posicionaram diante da sede do PDCAT, partido de Puigdemont, para expresar repúdio à decisão.
A coletiva de imprensa do líder catalão, prevista para às 12h30, foi adiada para as 13h30 e depois cancelada. Nesse período, muitos acompanhavam atentos à sessão do Senado, em Madri, de onde não veio nenhum sinal de que o governo de Mariano Rajoy estivesse disposto a suspender a tramitação do artigo 155 da constituição. O que aumentou ainda mais a tensão com a possível convocação de eleições autonômicas.
O anúncio oficial de Puigdemont só aconteceu às 17h, quando explicou que havia oferecido a última proposta de diálogo a Madri, sem êxito. E convocou o parlamento catalão a decidir os caminhos a seguir, em sessão que teve início no final da tarde e terminou por volta das 21h, com um debate acalorado. Que continua nesta sexta-feira pela manhã. Estima-se que a reativação da declaração de independência, suspensa no último dia 10 de outubro, seja posta em votação. Que coincidirá com a sessão no Senado que decidirá sobre a intervenção na Catalunha. A população foi convocada pelas entidades soberanistas acompanhar a sessão em volta do parlamento, localizado no parque Ciutadella.
Na noite desta quinta-feira, algumas pessoas começaram a acampar na frente do Palácio da Generalitat, sede do governo catalão. Espera-se que mais gente faça vigilia no local, pacíficamente, como forma de impedir uma invasão policial ordenada pelo governo de Madri para destituir Puigdemont.
Em Madri, a vice-presidente Soraya de Santamaria, criticou os idependentistas e disse que muitas vezes pediu a Puigdemont a volta à legalidade e o diálogo e não obteve resposta positiva.
O choque de trens agora parece inevitável. Não sabe-se ainda quem vencerá o embate. Uma coisa é certa. A sexta-feira, 27 de outubro, será decisiva na história do conflito secular entre Espanha e Catalunha.