Independentistas sob censura e ameaças após 30 dias de intervenção na Catalunha
Além da prisão de membros do governo e processos contra mais de 900 pessoas, estado espanhol tenta barrar movimento soberanistas através de sanções na justiça e na Junta Eleitoral. Protestos contra arbritariedades são diários
Um mês após proclamação da república, o cenário político na Catalunha está envolto em sombras. Além das medidas empreendidas para impedir a efetivação da declaração de independência em 27 de outubro passado, com prisões, processos judiciais contra mais de 900 pessoas, dissolução do parlamento e intervenção no executivo catalão, o governo espanhol tem recorrido diariamente à censura para tentar sufocar o movimento soberanista. O que faz inevitável as comparações com a ditadura franquista.
Entre os alvos estão a TV3 e Catalunya Ràdio, meios de comunicação pública, que esta semana foram ameaçados de serem fechados e reabertos “com gente normal” pelo candidado à presidência Xavier Garcia Albiol, do Partido Popular (PP) do primeiro ministro Mariano Rajoy. De parte da Junta Eleitoral, os dois veículos receberam ordem para não referirem-se a Carles Puigdemont como “presidente no exílio” nem como “secretários presos” aos mebros de sua equipe que estão encarcerados em Madri.
A Junta Eleitoral também proibiu as manifestações de solidariedade aos independentistas à Prefeitura de Barcelona, que foi obrigada hoje a retirar uma faixa da frente do prédio e a deixar de iluminar as fontes de Montjuïc e da Praça Catalunha de amarelo, cores utilizadas nos laços amarelos que denunciam as detenções.
A justiça tenta agora incriminar membros da Esquerda Repúblicana da Catalunha (ERC), como a deputada Marta Rovira, que está atuando à frente do partido na ausència do vice-presidente Oriol Junqueiras, também preso. Outro alvo é a deputada Ana Gabriel, da Candidatura de Unidade Popular (CUP), que apoiou a declaração de independência e cujo partido tem forte atuação antisistema.
RESISTÊNCIA – Contudo, as medidas repressivas empreendidas até agora (confira levantamento do jornal digital Vilaweb) não arrefeceram os ânimos dos indepedentistas. Mesmo com muitos sob a mira da justiça – já são mais de 900 pessoas alvos de procesos judiciais, entre eles mais de 700 prefeitos –, as manifestações de repúdio à atuação do governo da Espanha são diárias.
Não há dia em que não se registro manifestações em defesa da liberação dos membros do governo e em apoio a Puigdemont. No próximo sábado, mais de 40 músicos farão um concerto solidário em Barcelona. A renda será revertida para a caixa de solidariedade da Assembleia Nacional Catalã, cujo líder Jordi Sànchez está preso sem direito à fiança sob acusação de rebelião.
No próximo dia 7 de dezembro, uma grande manifestação será realizada em Bruxelas, onde se espera o desembarque de 50 mil catalães. Que vão ao coração da Europa exigir a liberação dos membros do governo e levar apoio a Puigdemont.
Os independentistas esperam manter a maioria no parlamento nas eleições de 21 de dezembro e demonstrar que há que se tratar a questão catalã pela via do diálogo. Um caminho que até agora Madri recusa-se a trilhar.
EXÍLIO – Carles Puigdemont está em Bruxelas junto com quatro dos seus secretários de governo. Na capital belga, aguardam decisão sobre ordem de extradição emitida pela justiça espanhola, que determinou suas prisões sob a acusação de sedição, rebelião e prevaricação.
Em Madri, estão encarcerados sete secretários e o vice-presidente Oriol Junqueiras, sem direito à fiança sob as mesmas acusações. Antes a justiça já determinado a prisão dos ativistas Jordi Sànchez, presidente da Assembleia Nacional Catalã (ANC) e de Jordi Cuixart, presidente da Òmnium Cultural.
A decisão de Puigdemont de exilar-se em Bruxelas foi tomada no próprio dia 27 de outubro, enquanto milhares de pessoas comemoraravam nas ruas a declaração de independência. A meta inicial era por em marcha as estruturas de governo do novo estado e realizar eleições constituintes.
Mas no mesmo dia os planos foram abortados e Puigdemont decidiu abrigar-se na Bélgica. Em entrevistas publicadas nos últimos dias, o líder catalão afirma que a decisão foi tomada em função das ameaças de “sangue e mortes” nas ruas feitas pelo do governo da Espanha, que teriam sido direcionados também a membros da sua família.
A versão de Puigdemont foi confirmada pelos secretários que o acompanham em Bruxelas e por deputados da sua base de apoio. “Não quero ser o presidente que levará a morte de cidadãos nas costas”, disse Puigdemont na última reunião do governo no Palácio da Generalitat, em 27 de outubro. Do lado de fora, muitos cidadãos já se concentravam ao redor do prédio dispostos a ajudar o governo de Puigdemont da resistir pacificamente.
Naquele dia, vários interlocutores fizeram chegar aos ouvidos de Puigdemont mensagens sobre a disposição do governo espanhol de atuar com mais violência que a empregada em 1º de outubro – quando mais de mil pessoas foram feridas pela polícia ao tentar votar no referendo sobre a independência.
Mariano Rajoy havia recebido aval do Senado para aplicar o artigo 155 da constituição na Catalunha, decretando a dissolução o parlamento, a intervenção no governo e a convocação de eleições autonômicas para o próximo dia 21 de dezembro. Tinha de prontidão 10 mil homens da Polícia Nacional e Guarda Civil, com brigadas especiais preparadas para assaltar a sede do governo catalão.
Em Bruxelas, Puigdemont vem denunciando a arbitrariedade do estado espanhol e cobrando dos líderes europeus intervenção para resolver o conflito. Seus passos e ações vêm sendo acompanhados pelos principais meios de comunicação europeus e fustigando denbates entre políticos de diversos países. Muitos dos quais têm lançado críticas contra a indisposição da Espanha ao diálogo e contra criminalização dos políticos independentistas.
No último final de semana, Puigdemont apresentou oficialmente sua candidatura às eleições de dezembro, quando concorrerá como cabeça de chapa pela coligação Juntos por Catalunha.