León: antiga sede do reino guarda tesouros da história em cada esquina
Blog Mundo Afora inicia pela cidade de León série sobre experiência de cruzar fronteira de carro entre Espanha e Portugal após confinamento pela pandemia
Colocar o pé na estrada após meses de confinamento por conta da Covid-19 foi o que fiz com minha família, em agosto, numa viagem de carro entre Espanha e Portugal, tendo como ponto de partida Barcelona. Cruzamos mais de 3 mil km em 13 dias e estivemos em nove cidades. Começo o relato desta aventura por León, no norte do território espanhol.
Para chegar a nosso primeiro destino percorremos 780 quilômetros. Foram sete horas na estrada, com parada para almoço numa das estações com restaurante e posto de combustível, na jurisdição de Burgos. Para quem for parar nestes locais, é sempre bom perguntar os preços antes porque há alguns que cobram bastante caro pelos produtos, como no caso do restaurante que entramos.
Pela janela, vimos desaparecerem os campos verdes da Catalunha e surgirem as planícies secas e pedregosas dos Monegros, na comunidade de Aragão, remetendo à paisagem lunar. No final deste trecho, uma surpresa: campos de girassóis encheram nosso caminho de um lado e outro da janela, nos acompanhando até Léon.
O clima também mudou. Fomos recebidos na cidade por uma fina chuva e temperatura variando entre 20 e 16 graus. A cidade – originada de um acampamento militar romano no ano 29 A.C – é acolhedora e bem cuidada. Foi fácil chegar ao centro da cidade, onde o acesso de carros na área do casco antigo é restrita aos moradores cadastrados, o que dá passo aos pedestres que caminham sem preocupação.
Havia muita gente nas ruas da cidade por volta das 17h30, quando chegamos, distoando do centro de Barcelona, que neste verão amargou uma baixa avassaladora no número de turistas. Soubemos por uma vendedora de uma loja de souvenirs que a maioria dos turistas que estávamos vendo eram da própria Espanha. E que antes da pandemia a quantidade de gente nas ruas da cidade era três vezes maior, grande parte estrangeiros que faziam o caminho de Santiago.
Após nos acomodarmos, deu tempo de dar um breve passeio pela área histórica da cidade, assinalada como um dos pontos do Caminho de Santiago. León abriga monumentos considerados jóias do Românico, como a Basílica de San Isidoro; do Gótico, como a Catedral de Santa Maria; do Renascimento, como o Convento de São Marcos, além dos vestígios da Muralha Romana.
Conta também com um grande número de apazíveis praças, onde se pode parar para um café, um drink ou refeição. Uma das mais destacadas é a Praça Maior, onde o burburinho de gente estava animado.
Outro ponto de encontro é diante da Catedral de Santa Maria, onde há bares, restautantes, sorveterias e lojas de souvenirs. Neste local, recomendo saborear um café. Otra área movimentada é a praça diante da sede da prefeitura, com várias mesas ao ar livre.
Para jantar, escolhemos um retaurante onde são servidos os famosos embutidos e queijos produzidos na região. Que também podem ser encontrados em lojas especializadas no centro da cidade. Uma dica é ir a um dos estabelecimentos adeptos do sistema de tapas, no qual ao pedir uma bebida o cliente é brindado com uma pequena ração de tira-gosto, o que fizemos em um outro restaurante.
Ainda deu tempo de parar para admirar o Museu Gaudí Casa Botines, desenhado pelo catalão Antoni Gaudí entre 1891 e 1892. O edifício é um dos três únicos idealizados pelo mestre da arquitetura fora da Catalunha.
Sentados ao lado de uma escultura em homenagem a Gaudí, em frente ao edifício, observamos os detalhes da construção declarada Monumento Histórico de Interesse Cultural, em 1969. Um imponente São Jorge (padroeiro da Catalunha), se destaca na fachada com sua espada contra o dragão.
Na manhã do dia seguinte, após um bom café da manhã nas proximidades da Catedral de Santa Maria, fizemos mais um passeio. Deu para observar um pouco melhor alguns dos monumentos da cidade de pouco mais de 180 mil habitantes, que no passado foi sede do antigo Reino de Léon.
UM POQUINHO DE HISTÓRIA SOBRE O REINO DE LEÓN
León foi um antigo reino medieval que surgiu na noroeste da Península Ibérica no perÍodo da reconquista cristã, após a invasão musulmana, entre os séculos X e XIII. O reino de Portugal nasceu a raiz da independência do antigo condado luso, em 1139, da sua matriz leonesa. Cem anos depois, o resto do reino de León ficou definitivamente unido ao de Castela, no centro da península, formando a coroa de Castilla.
Até hoje em dia se mantém nos meio rural – embora muito minorizada, a língua asturoleonesa, a meio termo entre o galego e o castelhano, e que se fala em Asturias, Leão e Nas terras que então foram reconquistadas pelo antigo reino: Samora, Salamanca e o norte da Estremadura. Como curiosidade, no conselho portugués de Miranda do Douro, na nordeste de Portugal, se conserva o mirandés, que é um dialeto da língua asturoleonesa.
Recentemente, as três províncias espanholas que compunham o antigo Reino de León, sem contar a Galicía e Astúrias (isto é, León, Samora e Salamanca) reinvindicam a velha identidade leonesa e um reconhecimento político que conduza à obtenção da autonomia plena da região, separando-se da comunidade autônoma atual de Castilla y León. Além dos argumentos culturais, se argumenta o agravo produzido pelo escanteamento da região nas atuais políticas regionais.
Pena que chegou a hora da partida. Nosso seguinte destino: Puebla de Sanabria, onde a exuberância da natureza salta os olhos. Conto sobre esta viagem no próximo texto.
Abaixo, deixo alguns links que podem ajudar a visualizar outras opções turísticas em León: