Jean Wyllys reflexiona sobre feridas do Brasil em Mostra de Cinema Brasileiro em Barcelona
Ex-deputado do PSOL reflexionou sobre a política brasileira após exibição do documentário Alvorada, que retrata cotidiano de Dilma Rousseff durante desenrolar do julgamento de impeachment em 2016
O Festival Dia do Brasil em Barcelona, que este ano se centrou na Mostra de Cinema Brasileiro – sem a tradicional festa no Poble Espanyol, por conta da pandemia – cativou o público que esteve no Cinema Girona, entre sexta (17) e domingo (19). O documentário Bixa Travesti, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman protagonizado por Linn da Quebrada, fechou a mostra, sendo precedido por Pacarrete, de Allan Deberton, estrelado por Marcélia Cartaxo.
Na abertura, após o documentário Alvorada, de Anna Muylaert y Lô Politi, que retrata o cotidiano da presidente Dilma Rousseff durante o desenrolar do julgamento de impeachment em 2016, a plateia esteve atenta às reflexões de Jean Wyllys, ex-deputado federal do PSOL, sobre aquele processo e suas consequências para o Brasil atual.
Enquanto nas salas ao lado os frequentadores do cinema situado no bairro do Eixample, em Barcelona, assistiam aos filmes comerciais atualmente em cartaz, o público de Alvorada, 80% de brasileiros, se mostrava sedento em estender o debate. Após falar de duas significativas metáforas visuais do documentário, ao princípio com a pisicina do Alvorada entupida pela areia, e ao final a cena de um urubu entrando no Alvorada depois do impeachment, Wyllys abordou diversos temas.
Entre eles, como o documentário mostra a ex-presidente no seu dia-a-dia, completamente diferente da imagem “pintada” por seu adversários políticos e pela mídia em geral. Segundo ele, imagem construída “a partir de um processo de desiformação soft, pelos meios de comunicação, e hard por meio das fake news criadas e massificadas pelos políticos contrários”.
“Passaram a imagem de que ela era histérica, autoritária e corrupta, através da cobertura da instabilidade política no Congresso e da Lava Jato, somado a uma grande dose de misoginia. Num ambiente no qual a crise do neoliberalismo estava tomando o páis“, explica. Além disso, ressaltou o fato das “elites” do país se juntarem para demonizar políticas sociais do PT”, como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Luz para Todos, ProUni, entre outros.
Muito aplaudido a cada reflexão, Wyllys falou sobre algumas das reflexões de Dilma Roussef no documentário. Entre elas, a capacidade que teve de em seu discurso de despedida do cargo, prever que o Brasil sofreria durante décadas a consequência do golpe. Também sobre sua fala sobre a escravidão no Brasil, cuja duração foi de 350 anos, e sua influência na formação da sociedade brasileira, “com uma classe dominante deplorável” que crê que não há lugar para o pobre”.
Ele també, falou sobre sua vida na política, a violência psicológica sofrida que o obrigou a sair do Brasil, e de como muitos personagens da política brasileira, como Dilma (impeachment), Lula (prisão), Marielle Franco (assassinato), tiveram trajetórias interrompidas pela violência praticada pelas classes dominantes. “Não se aceita uma mulher na presidência, um homem de origem humilde no comando país, uma favelada aonde Marille chegou, e um homem gay no Congresso”, desabafou.
A conversa, que pode ser vista na íntegra, no link abaixo no Instagram da deputada brasileira no Congresso espanhol, Maria Dantas, apesar de breve, foi bastante intensa e toca em muitos outros pontos da política brasileira.