Alepo, Síria: “O silêncio do mundo está a matar-nos”

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Dezenas de civis foram mortos e quase dois milhões estão sem água em ataques ocorridos em Alepo nos últimos dias

O Conselho de Segurança das Nações Unidas está reunido na tarde deste domingo (25) após um sábado intenso de bombardeios em Alepo, na Síria, pelas forças de Bashar al-Assad. Dezenas de civis foram mortos e quase dois milhões estão sem água. Uma nova ofensiva do exército sírio, apoiada pela aviação russa, visa tomar a zona leste da cidade, controlada pelas forças rebeldes, onde cerca de 250 mil civis estão sob o cerco das armas.
Teme-se que a área se torne no palco da maior batalha do conflito que em cinco anos matou centenas de milhares de pessoas e expulsou 11 milhões de suas casas. A ofensiva, anunciada na última quinta-feira, dinamitou o frágil cessar-fogo de sete dias negociado durante meses pela diplomacia norte-americana, deixando o secretário de Estado John Kerry a apelar em vão para que Moscou regresse à mesa de negociações. A reunião deste domingo em Nova Iorque foi convocada a pedido dos Estados Unidos, Reino Unido e França.
Qualquer que seja o resultado da reunião não aplacará a dor e o terror vividos na cidade nestes últimos dias. O relato de uma enfermeira que trabalha em um dos hospitais de Alepo ao jornal britânico The Guardian é desolador. “Os ataques e massacres não param”, conta. “Bombardeios, cercos, pessoas sem casa, exaustão, medo, falta de eletricidade. O silêncio do mundo está a matar-nos”, acusa. As crianças “perdem os seus membros e tornam-se deficientes para a vida, e o seu único pecado é serem as crianças da Síria.”
A intenção do regime é conquistar toda a cidade, a segunda maior do país. Durante a noite de sexta-feira para sábado, as bombas caíram em intervalos curtos num ataque feroz – o maior desde o início dos combates na região, em 2012. A destruição é esmagadora, segundo vários testemunhos.

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Cidade síria está sob intenso ataque. Destruição provocou corte no abastecimento de água, prejudicando quase dois milhões de pessoas

Não se sabe ainda quantas pessoas terão morrido. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH, uma organização não governamental com base em Londres) começou por falar em 27, mas várias fontes locais, como Hamza Al-Khatib, director de um hospital, apontou para 91 mortos, segundo o Le Monde. A Al Jazeera falava em 50 mortos no espaço de 24 horas. Os números poderão ser maiores, já que não se sabe quantas pessoas estão debaixo dos escombros.
Os bombardeios danificaram três instalações médicas e dois centros dos Capacetes Brancos, bem como vários dos seus veículos. Segundo este grupo voluntário de resgate, mais de 40 edifícios ficaram destruídos. Um deles, no bairro de Bab al-Nairab, caiu sobre uma menina de cinco anos, Rawan Alowsh, que foi salva numa operação filmada pela Sky News. Mas nem os pais de Rawan nem os seus quatro irmãos tiveram a mesma sorte.
Uma das emergências agora é a água, que segundo as Nações Unidas não está chegando a 1,7 milhões de pessoas. Na sexta-feira, os ataques deixaram a estação de Bab al-Nayrab sem funcionar, cortando o fornecimento a 250 mil pessoas no Leste de Alepo. Como resposta, a estação de Suleiman al-Halabi, que abastece 1,5 milhões na zona Oeste da cidade (controlada pelo Governo), foi desligada, denunciou a Unesco, a agência da ONU para as crianças.
“Quase dois milhões de pessoas em Alepo estão uma vez mais sem água canalizada da rede pública”, afirmou Hanaa Singer, representante da Unicef na Síria, citada pelo Guardian. “Privar crianças de água é colocá-las em risco de surtos catastróficos de doenças e aumenta o sofrimento, medo e horror em que as crianças de Alepo vivem ao longo de todos os dias”, continuou, adiantando que na parte oriental da cidade, a população terá de recorrer a água contaminada. A ONU acusa os dois lados do conflito de estarem a usar a água como arma de guerra.

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