Ataque dos EUA à Síria mudará o curso da história?
O questionamento acima, feito em reportagem na rádio estatal russa Vesti FM, se propagou por todo o planeta nesta segunda-feira, 7 de abril. Não sem razão. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, instou os principais líderes mundiais a posicionarem-se diante da sangrenta guerra da Síria, após atacar com mísseis a uma base aérea das forças de Bashar al-Assad em Homs para destruir o seu arsenal. O que veio na sequência do ataque com armas químicas que na quarta-feira matou mais de 80 civis, incluindo dezenas de crianças.
A reação mais indignada partiu da Rússia, aliada de Assad, que afirmou que o ataque “viola a lei internacional”, e foi “preparado antes dos eventos em Idlib” e lançado “sob um pretexto inventado”. Por outro lado, Trump recebeu apoio do presidente da França, François Hollande, da chanceler alemã, Angela Merkel, o ministro de Defesa britânico, Michael Fallon, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
François Hollande realizou reunião de emergência com conselheiros de defesa para discutir os próximos passos a dar, numa altura em que a força aérea de França continua muito ativa na coligação internacional liderada pelos EUA para destronar por via aérea o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) na Síria e no Iraque. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, destacou que o ataque foi um aviso aos aliados de Assad, a Rússia e ao Irã.
Num comunicado conjunto, Hollande e a chanceler alemã, Angela Merkel, sublinharam que o presidente sírio é “o único responsável” pela decisão de Donald Trump em atacar uma das suas bases aéreas. “Só o presidente Assad é responsável por este evento” no conflito civil, que entrou no sétimo ano consecutivo. “O uso repetido de armas químicas e os crimes cometidos contra a sua própria população têm de ser punidos”, diz o comunicado.
O ministro da Defesa britânico, Michael Fallon, afirmou que apoia totalmente a ação dos americanos. “É um ataque limitado, apropriado. Atingiu a base, os aparelhos aéreos, o equipamento de apoio que, acreditam os americanos, estiveram envolvidos neste ataque químico. Os EUa tentam dissuadir o regime de planejar ataques com gás como aquele que matou mais de 100 pessoas, incluindo crianças.”
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que o ataque “ilustra uma determinação necessária contra os ataques químicos bárbaros”. “A União Europeia trabalhará com os Estados Unidos para pôr fim à brutalidade na Síria”, acrescentou Tusk, numa curta declaração no Twitter.
Seis pessoas morreram no ataque, que também resultou em enormes perdas materiais, segundo informações do Exército de Bashar al-Assad. Em comunicado, é acrescentado que o regime vai continuar a “esmagar o terrorismo” para “restaurar a paz e a segurança em toda a Síria”.
“Este ataque não vai impedir-nos de continuarmos lutar contra o terrorismo”, disse à rádio BBC 4 o governador da província de Homs, Talal Barazi. “Não estamos surpreendidos que a América e Israel continuem a apoiar este terrorismo. A América é um real parceiro nos ataques às infraestruturas e ao povo da Síria, atingindo-nos de várias formas”, declarou.
Do outro lado, o general Jack Keane, ex-vice-chefe de gabinete do exército dos EUA, informou que a operação foi limitada com um alvo específico para entrar na cabeça de Assad e [mostrar-lhe] que, se lançar outra vez um ataque químico, os Estados Unidos vão responder com um ataque muito maior. “Sendo muito franco, podemos destruir seu poderío aéreo numa noite”, completou.
Sobre o fato de Trump não ter pedido autorização à ONU para lançar o ataque, o general respondeu: “E quando é que ele a obteria? Os russos vetaram as últimas sete resoluções da ONU quando tudo o que [os outros membros do Conselho de Segurança] estão a tentar fazer é condenar Assad pelos crimes que ele já cometeu”.
Diante da declaração, o questionamento inicial é mais que pertinente. Esperemos os próximos capítulos.