Detenção de Puigdemont na Alemanha incendeia as ruas da Catalunha

Poucas horas depois da notícia da prisão de Carles Puigdemont na Alemanha, ruas de várias cidades da Catalunha foram tomadas por manifestantes contrários à extradição

Na avenida Marina, manifestantes convocados pela ANC iluminaram seus telefones celulares pedindo liberdade para Puigdemont

A mobilização nas ruas contra a extradição do presidente cessado da Catalunha, Carles Puigdemont, preso na manhã deste domingo na Alemanha, foi rápida e contundente. Em poucas horas, milhares de pessoas tomaram as ruas de várias cidades do território em manifestações massivas, onde houve um clamor uníssono: Que o líder catalão não seja entregue à justiça espanhola, que o processa por sedição, rebelião e malversação pela proclamação da república em outubro passado.

O maior temor é que extraditado para Espanha não tenha os seus direitos fundamentais respeitados, como vem acontecendo com os nove presos políticos encarcerados até agora em Madri, entre eles deputados e ex-auxiliares de seu governo. As mais recentes prisões ocorreram na última sexta-feira, quando cinco líderes independentistas foram presos sem direito à fiança, entre eles o candidato ao governo, Jordi Turull e a ex-presidente do Parlamento da Catalunha, Carme Forcadell.

A prisão na Alemanha ampliou o foco internacional do conflito catalão, que se tornou notícia em todo o mundo. O maior questionamento é como agirá a justiça daquele país e se haverá interferência do governo na primeira-ministra Angela Merkel, aliada política do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy. A União Europeia vem sendo criticada por dar as costas ao problema e fazer vista grossa à repressão judicial espanhola, que vem sendo equiparada à da época da ditadura franquista.

Carles Puigdemont foi detido pela manhã pela polícia alemã, que agiu em conjunto com serviço secreto espanhol

Acompanhei a manifestação convocada pela Assembleia Nacional Catalã (ANC), que saiu às 17h (12h em Brasília) da frente da sede da Comissão Europeia, no Passeio de Gràcia, até o Consulado da Alemanha, na avenida Marina, em Barcelona, num trajeto de quatro quilômetros. Às 16h já havia começado outro protesto na cidade, nas Rambles Canaletes em direção à Delegação do Governo da Espanha, convocada pelo Comitê em Defesa da República (DCR).

Ao sair do metrô, em frente à Casa Milà, um pouco antes das 17h já era grande o número de pessoas concentradas no Passeio de Gràcia. A cada minuto mais e mais gente chegava. Famílias inteiras, com crianças, idosos, pessoas com deficiência. No olhar muita indiganção, mas todos de cabeça firme.

Em pouco tempo a multidão, que se espalhava até o cruzamento com a Gran Via foi se movendo. Todos os acessos às ruas por onde passaria a passeata já estavam cortadas pela polícia, que acompanhava tudo de perto. Muitos dos manifestantes levavam consigo a estelada, a famosa bandeira independentista, muitas delas alçadas em mastros ou servindo como capas.

Os lemas entoados traduziam o sentimento da multidão. “Puigdemont, nosso presidente”, ecoava de ponta a ponta, demonstrando que mesmo cessado do cargo pelo governo espanhol, ainda é considerado legítimo líder da Generalitat, o governo catalão. Os manifestantes também clamavam pela liberdade dos nove presos políticos que estão encarcerados em Madri.

“Fora injustiça espanhola”, também era repetido, demonstrando a pouca confiança no juiz Pablo Llarena, que conduz o processo no Supremo Tribunal de Justiça da Espanha contra os independentistas. Muitos juristas têm criticado a argumentação do magistrado no processo, que estaria atuando claramente sob a tutela do governo central para incriminar os líderes catalães.

O trajeto até a frente da sede do Consulado Alemã, na avenida Marina, foi tranquilo, sem incidentes, pela multidão estimada em 55 mil pessoas pela Guarda Civil. No local, em cima do palco, representantes da ANC e dos partidos independentistas instaram a Alemanha a não extradidar Puigdemont. Por aqui ninguém crê na autonomia do sistema judicial, que no caso do julgamento dos líderes catalães estaria desrespeitando os direitos individuais fundamentais sem nenhum tipo de pudor.

A manifestação culminou com O canto dos Segadors, hino independentista, e com milhares de pessoas alçando no ar luzes dos celulares pedindo liberdade. Por trás, no prédio onde fica a sede do Consulado Alemão, a bandeira espanhola foi retirada e substituída por uma estelada.

As notícias da manifestação em frente à Delegação do Governo Espanhol, onde cerca de mil pessoas se reuniram, deram conta de um cenário tenso, com confrontos com a polícia e queima de conteiners de lixo. A polícia reagiu espancando manifestantes. O saldo até a final da noite era de mais de 90 feridos.

Em diversas cidades da Catalunha também foram registradas reações populares, como em Girona, onde houve uma grande passeata. Manifestantes boquearam a rodovia AP-7, que leva em direção à fronteira com a França, que ainda estava fechada à meia-noite, provocando congestionamentos de 17 quilômetros.

TRÂMITE JUDICIAL Depois de detido pela polícia alemã, que agiu em conjunto com o serviço de inteligência espanhol, Puigdemont foi encaminhado ao centro penitenciário de Neumünster (foto). O jornal alemão Stern informou que ao entrar na cadeia, Puigdemont foi recebido pelos presos com gritos de “liberdade”. Na frente da unidade, em pouco tempo manifestantes se reuniram com cartazes e faixas pedindo a soltura do líder catalão. Nesta segunda-feira, Puigdemont será ouvido pela justiça, que decidirá se vai extraditá-lo ou não para a Espanha.

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