Plano de atentado terrorista contra Barcelona, em 2008, foi inventado, denuncia jornal

11 del Raval bertran
Deputado David Fernandez (C), ao lado de dois dos paquistaneses que foram condenados e cumpriram pena pelo suposto atentado

Desde o último sábado (4), quando o jornal El Periódico publicou reportagem na qual afirma que o plano de atentado terrorista contra o metrô de Barcelona, em 2008, nunca existiu, espera-se posicionamento da Audiência Nacional (a Justiça espanhola). Em janeiro daquele ano, a polícia, prendeu 14 pessoas no bairro do Raval, no centro histórico, sob a acusação de serem os mentores da ação que teria sido abortada.

Raval acusador
Asim Iqbal, que seria procurado no Paquistão por tráfico de pessoas, teria inventado toda a trama e acusado injustamente presos na operação

A matéria do El Periódico revelou que a principal testemunha de acusação, o paquistanês Asim Iqbal, mentiu no depoimento no qual apontou os supostos integrantes da célula terrorista que pertenceria a Al Qeda. Ao invés de terrorista suicida arrependido, como se autodenominou diante da Audiência Nacional, em 2009, era na verdade um colaborador da polícia. E foragido da justiça do seu país, onde é acusado por tráfico de pessoas.

Lembro que na ocasião operação antiterrorista estava de férias em Barcelona e coincidentemente no centro da cidade, próximo de onde foi realizada a ação policial. Por conta da caça aos “terroristas”, o trânsito na área foi cortado, e quem estava nas imediações ficou por horas impedido de se locomover para outros pontos da capital.

Os meios de comunicação de toda Europa, especialmente da Espanha, divulgaram com estardalhaço o sucesso da operação. Contudo, uma parte da imprensa catalã, entre elas o diário digital Vilaweb,  apontou a fragilidade na investigação do caso, que ficou conhecido como “Os 11 do Raval” pelo fato de 11 deles dos detidos (10 paquistaneses e um indiano) terem sido condenados a penas de 6 a 8 anos.

Vilaweb ouviu e publicou matérias em várias ocasiões, de lá para cá, baseadas nos relatos dos familiares dos presos, seu advogado e a comunidade paquistanesa, que se mobilizou, sem obter sucesso, em defesa dos acusados. Os que não tinham cidadania espanhola foram deportados, suas famílias marginalizadas, e um deles ainda está no cárcere.

Nesta quarta-feira, 8 de julho, dois atos realizados em Barcelona cobraram a reabertura do caso, reparação financeira, pedido de desculpa formal e a liberação da pessoa que ainda está presa.

O primeiro foi organizado pelos partidos políticos ERC, ICV-EUiA e CUP, ao lado de dois dos acusados que cumpriram pena. Representantes das siglas exigiram que o caso seja revisado, diante da contundência das informações do El Periódico.

Em entrevista coletiva, os políticos catalães pediram desculpas à comunidade paquistanesa pelo ocorrido, defenderam que os penalizados sejam indenizados e reclamaram do “uso político do caso” à época por parte do então governo espanhol.

Benet Salellas, que atuou como advogado de alguns dos acusados, cobrou que Asim Iqbal seja imputado por falso testemunho. Ele falou também que é preciso que sejam investigadas as responsabilidades a nível político e policial. “As forças  de segurança espanholas sabiam desde o princípio que a testemunha estava mentindo e que os presos não faziam parte da Al Qeda”, acusou.

“Isso foi um estado de excessão que projetou a sombra da suspeita sobre a comunidade paquistanesa”, denunciou o deputado David Fernandez (ERC). Como ele, os deputados David Companyon (ICV-EUiA) e Oriol Amorós (ERC) condenaram a “montagem policial”.

Ravalprotesto
Representantes de comunidade paquistanesa cobram reabertura do caso e reparação

O segundo ato foi realizado no bairro do Raval por familiares dos acusados, com apoio da associação paquistanesa Camí de la Pau (Caminho da Paz), Associação de Trabalhadores Paquistaneses da Catalunha e acompanhado por Vilaweb (confira aqui matéria em catalão).

Raval rambla raval
No ato realizado na Rambla do Raval, comunidade paquistanesa apelou por justiça

Além de indenização às famílias, eles cobram que os que foram deportados possam retornar a Barcelona e que Maroof Ahmed Mirza, único dos 11 condenados ainda preso, seja liberado, visto estar pagando por um crime que não cometeu.

A reportagem do jornal El Periódico ouviu Asim Iqbal na Inglaterra, onde ele vive sob anonimato com a família. Na matéria, são mostradas várias das contradições da principal testemunha de acusação, que viveu durante muito tempo em Barcelona vendendo permissões de trabalho falsas a imigrantes paquistaneses que queriam trabalhar na Espanha.

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