Plano de atentado terrorista contra Barcelona, em 2008, foi inventado, denuncia jornal
Desde o último sábado (4), quando o jornal El Periódico publicou reportagem na qual afirma que o plano de atentado terrorista contra o metrô de Barcelona, em 2008, nunca existiu, espera-se posicionamento da Audiência Nacional (a Justiça espanhola). Em janeiro daquele ano, a polícia, prendeu 14 pessoas no bairro do Raval, no centro histórico, sob a acusação de serem os mentores da ação que teria sido abortada.
A matéria do El Periódico revelou que a principal testemunha de acusação, o paquistanês Asim Iqbal, mentiu no depoimento no qual apontou os supostos integrantes da célula terrorista que pertenceria a Al Qeda. Ao invés de terrorista suicida arrependido, como se autodenominou diante da Audiência Nacional, em 2009, era na verdade um colaborador da polícia. E foragido da justiça do seu país, onde é acusado por tráfico de pessoas.
Lembro que na ocasião operação antiterrorista estava de férias em Barcelona e coincidentemente no centro da cidade, próximo de onde foi realizada a ação policial. Por conta da caça aos “terroristas”, o trânsito na área foi cortado, e quem estava nas imediações ficou por horas impedido de se locomover para outros pontos da capital.
Os meios de comunicação de toda Europa, especialmente da Espanha, divulgaram com estardalhaço o sucesso da operação. Contudo, uma parte da imprensa catalã, entre elas o diário digital Vilaweb, apontou a fragilidade na investigação do caso, que ficou conhecido como “Os 11 do Raval” pelo fato de 11 deles dos detidos (10 paquistaneses e um indiano) terem sido condenados a penas de 6 a 8 anos.
Vilaweb ouviu e publicou matérias em várias ocasiões, de lá para cá, baseadas nos relatos dos familiares dos presos, seu advogado e a comunidade paquistanesa, que se mobilizou, sem obter sucesso, em defesa dos acusados. Os que não tinham cidadania espanhola foram deportados, suas famílias marginalizadas, e um deles ainda está no cárcere.
Nesta quarta-feira, 8 de julho, dois atos realizados em Barcelona cobraram a reabertura do caso, reparação financeira, pedido de desculpa formal e a liberação da pessoa que ainda está presa.
O primeiro foi organizado pelos partidos políticos ERC, ICV-EUiA e CUP, ao lado de dois dos acusados que cumpriram pena. Representantes das siglas exigiram que o caso seja revisado, diante da contundência das informações do El Periódico.
Em entrevista coletiva, os políticos catalães pediram desculpas à comunidade paquistanesa pelo ocorrido, defenderam que os penalizados sejam indenizados e reclamaram do “uso político do caso” à época por parte do então governo espanhol.
Benet Salellas, que atuou como advogado de alguns dos acusados, cobrou que Asim Iqbal seja imputado por falso testemunho. Ele falou também que é preciso que sejam investigadas as responsabilidades a nível político e policial. “As forças de segurança espanholas sabiam desde o princípio que a testemunha estava mentindo e que os presos não faziam parte da Al Qeda”, acusou.
“Isso foi um estado de excessão que projetou a sombra da suspeita sobre a comunidade paquistanesa”, denunciou o deputado David Fernandez (ERC). Como ele, os deputados David Companyon (ICV-EUiA) e Oriol Amorós (ERC) condenaram a “montagem policial”.
O segundo ato foi realizado no bairro do Raval por familiares dos acusados, com apoio da associação paquistanesa Camí de la Pau (Caminho da Paz), Associação de Trabalhadores Paquistaneses da Catalunha e acompanhado por Vilaweb (confira aqui matéria em catalão).
Além de indenização às famílias, eles cobram que os que foram deportados possam retornar a Barcelona e que Maroof Ahmed Mirza, único dos 11 condenados ainda preso, seja liberado, visto estar pagando por um crime que não cometeu.
A reportagem do jornal El Periódico ouviu Asim Iqbal na Inglaterra, onde ele vive sob anonimato com a família. Na matéria, são mostradas várias das contradições da principal testemunha de acusação, que viveu durante muito tempo em Barcelona vendendo permissões de trabalho falsas a imigrantes paquistaneses que queriam trabalhar na Espanha.