Independentismo catalão reúne 120 mil pessoas em manifestação histórica em Madri
Protesto contra prisão e exílio de líderes catalães leva milhares de pessoas ao coração da capital espanhola em defesa do direito à autodeterminação da Catalunha
O independentismo catalão realizou um feito histórico na tarde deste sábado (16), reunindo 120 mil pessoas no centro de Madri em defesa dos presos políticos e exilados. Sob o lema “Autodeterminação não é delito. Democracia é decidir”, a manifestação ganhou apoio de mais de cinquenta entidades da Catalunha e de outros pontos da Espanha, entre eles sindicatos, associações e partidos políticos. A convocatória teve à frente a Assembleia Nacional Catalã (ANC), Òmnium, os grupos parlamentares dos partidos JxCat, ERC e CUP.
Mesmo com o governo espanhol e os meios de comunicação minimizado o protesto, ficou claro que a mobilização dos catalães teve um grande impacto no coração de Madri. Para as autoridades locais houve a participação de apenas 20 mil pessoas, mas as imagens divulgadas ao longo da tarde demonstram que havia muito mais gente.
Da Catalunha e de outras comunidades entraram na capital do país gente em mais de 50 ônibus fretados e em 15 trens de alta velocidade, sem falar nos que foram de veículo próprio ou dos participantes de Madri. A marcha começou por volta das 18h e percorreu um trajeto de 1,5 km, do Passeio do Prado até a Praça Cibeles, onde houve discursos e apresentações musiciais.
Entre os participantes da caminhada estava o presidente da Generalitat, Quim Torra, secretários do seu governo e mais de 150 prefeitos catalães. Parafraseando o poeta Joan Maragall e a seva “Ode a Espanha” para pedir aos poderes do Estado que escutem a reivindicação dos cidadãos que vieram da Catalunha.
“Escuta, Espanha, este clamor de liberdade. Escuta, Espanha, e aproveita a ocasião para democratizar-se”, remarcou. Torra afirmou que “os catalães continuarão defendendo os seus direitos” e enviou “um abraço imenso” para os líderes presos e exilados. O presidente catalão qualificou o julgamento no Tribunal Supremo como “uma vergonha” e fez um chamado em convertê-lo em um chamado pelo direito à autodeterminação.
A abertura do evento ficou a cargo da jornalista espanhola Patrícia Lopez, que atuou como mestre de cerimônia. “Apesar da repressão, seguimos ao lado dos defensores do direito a discordar, a expressar-se, a manifestar-se, a ter uma moradia digna, educação pública de qualidade. Defender a autodeterminação é defender direitos civis e sociais”, disse.
Na sequência falou a presidente da ANC, Elisenda Paluzie, que criticou o julgamento dos líderes catalães. “Este julgamento és uma vergonha contra a democracia. Autodeterminação é um direito e é uma ferramenta de paz para resolver os conflitos políticos. Não é um delito!”
O porta-voz de Òmnium Cultural, Marcel Mauri, chamou a atenção de todos democratas do Estado. “Buscais a verdade do que ocorre na #Catalunha. Não os deixeis manipular por alguns partidos e meios que só buscam a confrontação. Sabemos que nosso compromisso com a justiça universal é também vosso”, enfatizou.
Meritxell Lluís, esposa do ex-secretário Josep Rull, um dos presos em julgamento, falou em nome da Associação Catalã pelos Direitos Civis. Depois de nominar cada um dos presos e exilados, disse: “A prisão preventiva é um escárnio e castigo para todos nós. Com esta situação, neste Estado não se respeitam os direitos humanos”.
Antxon Ramírez, pai de Adur, um dos jovens do caso Altsasu que está condenado por terrorismo em Navarra por conta de uma briga de bar com policiais, falou em nome da nome da associação de país e mães @Altsasugurasoak ressaltou que “quando se trata de defender a justiça e os direitos fundamentais é preciso participar, porque vai a democracia”. “Defendemos solidariedade, dignidade e liberdade”.
Em nome dos sindicatos vindos de todo estado espanhol, falou Oscar Reina, do Sindicato Andaluz de Trabalhadores. “Que saibam que o povo valente nos uniremos para colocar para fora essa elite corrupta contra a liberdade e a democracia. Não passarão!”
Elena Martínez, porta-voz de Esquerda Castelhana ressaltou que o julgamento dos líderes catalães afeta a todo o país. “Catalães: obrigada por vossa luta a favor da democracia. Todos sabemos que no Supremo se julgam a todos os espanhóis, mas que não conseguirão calar-nos nem com a repressão”.
Jaime Pastor, porta-voz do Movimento Madrilenhos pelo direito a decidir foi o último a falar. “Exigimos a liberdade de todos os presos e exilados. Não renunciaremos nunca a seguir construindo muralhas humanas para acossar a este regime”. O ato foi encerrado minutos antes das 19h (hora local) com o simbólico canto “L’estaca” e show de luzes na praça Cibeles.
Un dia històric, un gran èxit d’organització i de mobilització. Una manifestació que hauria de moure mentalitats. Gràcies a totes les persones que l’heu fet possible. Heu omplert Madrid i heu estat exemplars en l’actitud. Com a Barcelona i com a Brussel·les.
— Carles Puigdemont (@KRLS) 16 de março de 2019
De Bruxelas, onde está exilado, o ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont celebrou o êxito da manifestação. “Um dia histórico, um grande êxito de organização e de mobilização. Uma manifestação que haveria de mover mentalidades. Vocês encheram Madri e foram exemplares na atitude. Como em Barcelona e Bruxelas.