O que é Barçagate?

Entenda o caso que está balançando as estruturas do Futebol Clube Barcelona e envolve ex-diretoria do clube catalão em campanha de difamação

O “Barçagate”, caso envolvendo empresas contratadas pelo Futebol Clube Barcelona que supostamente fizeram campanha de difamação nas redes sociais contra pessoas e entidades não afins à então direção de Josep Maria Bartomeu, é destaque no noticiário esportivo e policial desde ontem. As prisões de Bartomeu e de seu ex-braço direito, Jaume Masferrer, colocados em liberdade condicional hoje em Barcelona após se recusarem a testemunhar, coloca foco na investigação que vem sendo realizada em segredo de justiça desde o ano passado.

Barçagate
Josep Maria Bartomeu, Jaume Masferrer, Óscar Grau e Roman Gómez, presos ontem, já foram liberados

Além da liberação do ex-presidente do Barça e de Jaume Masferrer, a juíza Alejandra Gil também decidiu levantar o sigilo do sumário, o que promete alimentar mais manchetes nos próximos dias. Segundo o que se sabe até agora o FC Barcelona aparece no processo como lesado e não como envolvido. Na ação de ontem, a polícia também prendeu o gerente geral, Òscar Grau, e o chefe dos serviços jurídicos, Román Gómez Ponti, na sede do clube. Estes dois também se ampararam no direito de não testemunhar diante de oficiais e foram liberados sem medidas cautelares.

Com base em informações divulgadas pela imprensa da Catalunha, explicamos abaixo de que se trata o escândalo que irrompe a poucos dias da eleição da nova diretoria do clube, marcada para o próximo domingo. 

PRIMEIRA MÃO

O caso foi destapado pelo programa Què t’hi jugues em 17 de fevereiro de 2020. O elemento central do caso é a empresa I3 Ventures, que teria sido contratada para supervisionar a reputação do clube e da diretoria de Josep Maria Bartomeu nas redes sociais. Contudo, um relatório entregue ao Barça revelou que uma campanha de difamação foi tecida, através de contas falsas no Twitter e no Facebook, contra várias pessoas famosas no ambiente do clube . 

Entre os afetados por esta campanha estavam jogadores do time titular do Barça, como Leo Messi e Gerard Piqué; lendas do clube como Xavi Hernández, Pep Guardiola e Carles Puyol; além do ex-presidente do Barça Joan Laporta e do candidato Víctor Font. A campanha foi além do ecossistema catalão e também tiveram como alvo políticos e entidades independentistas: os ex-presidentes Quim Torra e Carles Puigdemont e organizações como Òmnium Cultural, Assembleia Nacional Catalã e Tsunami Democrático. 

A diretoria de Josep Maria Bartomeu primeiro se defendeu dizendo que não havia contratado a I3 Ventures em nenhum momento, mas o próprio presidente anunciou pouco depois que estava rescindindo o contrato em vigor desde 2017. Depois negou que a função da empresa, pelo menos a pedido do clube, era  realizar uma campanha de difamação. Neste sentido, disse que a tarefa era apenas monitorar as redes sociais e influenciar positivamente a opinião do Barça.

UM MILHÃO DE EUROS

De acordo com o relatório, publicado pela Què t’hi jugues, o Barça gastou quase um milhão de euros na contratação da I3 Ventures, valor bastante acima do preço de mercado em relação ao acompanhamento das redes sociais. Porém, o valor não teria sido pago em uma única parcela, mas sim dividido em seis partes e por meio de diversos departamentos do clube.

GUERRA SUJA NA REDE

Além disso, apesar das negativas do clube, o relatório continha informações desagregadas sobre o impacto de seis contas falsas que estiveram envolvidas na campanha de difamação. Esses perfis foram: Mésqueunclub, Sport Leaks, Jaume un Fil de Terror, Justicia y Diálogo en el Deporte, Respeto y Deporte i Alter Sports.

RENÚNCIAS

Poucas semanas após o de Barçagate se tornar público, seis diretores do conselho de Bartomeu renunciaram em bloco, incluindo os vice-presidentes Emili Rousaud e Enrique Tombas. Em uma carta, os executivos discutiram sua decisão sobre o escândalo da mídia social, mas também sobre a gestão de Bartomeu para lidar com o impacto da pandemia. Além disso, em vários discursos à mídia, Rousaud deu a entender que havia corrupção dentro do conselho. “Acho que alguém colocou a mão na caixa”, disse ele. Mais tarde, quando o Barça o ameaçou com uma ação legal, ele voltou atrás nas acusações.

AUDITORIA

Em 19 de fevereiro, o Barça anunciou que havia contratado uma auditoria à Price Waterhouse Coopers (PwC) para esclarecer os fatos. Somente em 6 de julho a PwC entregou seu relatório ao clube, no qual confirmou que havia pago um custo extra para a I3 Ventures e que o valor havia sido dividido para contornar os protocolos de aprovação internos.

De acordo com o auditor, não foram encontradas evidências de corrupção e o conselho não pôde ser vinculado à campanha de difamação. No entanto, o conselho se recusou a publicar o relatório completo e apenas postou um resumo no site do Barça. Só no final de julho o clube publicou o relatório completo.

DIGNITAT BLAUGRANA

Na sequência das declarações de Rousaud, membros da plataforma Dignitat Blaugrana apresentaram uma queixa contra o conselho de Josep Maria Bartomeu por alegados crimes de administração e corrupção. A denúncia foi dirigida ao ex-presidente, Jaume Masferrer e ao dono da I3 Ventures, Carlos Rafael Ibáñez. Em meados de junho, o 13º tribunal de investigação de Barcelona acatou a denúncia. Um mês depois, após questionar a ex-diretora de compliance do Barça, Noelia Romero, a magistrada decretou o sigilo da investigação.

Ontem, a justiça ordenou várias buscas, como na sede do clube, que culminou com a prisão do ex-presidente Bartomeu; seu conselheiro Jaume Masferrer; o gerente geral do clube, Òscar Grau; e o chefe dos serviços jurídicos, Román Gómez Ponti.

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