Sanfonas ecoam no coração dos Pirineus

Encontro dos Acordeonistas do Pirineu 2023, em Arsèguel, reúne artistas de vários continentes nos Pirineus catalães

No domingo, 30 de julho, vivenciei um reencontro prazeroso com o som de sanfonas e outros instrumentos como o sac de gèmecs (saco de gemidos, tradução livre) e violino. Não no meu Nordeste (brasileiro), pródigo em sanfoneiros como Sivuca, Dominguinhos e Luiz Gonzaga. Foi no Encontro dos Acordeonistas do Pirineu 2023, realizado em Arsèguel, um pequeno povoado da Catalunha, com 93 habitantes, encravado entre montanhas a 950 metros do nível do mar.

Estava entre o público que prestigiava o concerto no pátio da igreja local realizado por três grupos, dois da Catalunha e um de Aragão. As canções entoadas me fizeram viajar a meu berço, onde a melodia da sanfona é sentida com maior fervor nas festas juninas.

Primeiro se apresentaram Augustí Busquets (acordeão diatônico) e Narcís Mellado, da Catalunha, que entoaram canções que despertaram a maioria do público que havia madrugado no grande concerto do sábado à noite. Um grupo de pessoas começou a dançar, seguindo os passos conhecidos entre os amantes das músicas tradicionais produzidas pelos músicos e cantores.

Sanfonas Arseguel
Praça da Igreja em Arsèguel,foi um dos palcos da apresentação de sanfoneiros. Foto: Taíza Brito

Depois, Aragón Folk, formado por David Buerba (acordeão diatônico), Eduardo Buerba (gaita de Boto, xiflo e saltério), de Aragão, e Corrandes són Corrandes, da Catalunha, com Anais Falcó (voz e violino), Christian Simelio (gitarra e voz) e Jaume Casalí (acordeão). Estes últimos especializados em “repentes”, como no Nordeste brasileiro, que improvisam as canções de acordo com as indicações do público.

A apresentação gratuita começou às 12h do domingo e terminou por volta das 15h, com espectadores animados. Uma equipe da TV3, a rede de televisão pública da Catalunha, estava no local, registrando o evento que se celebra desde 1976 e visa a recuperar o acordeão diatônico na Catalunha, Aragão e o País Valenciano.

O encontro reuniu artistas da região dos Pirineus e convidados de diversos países da Europa e América, com apresentações que se estenderam a La Seu d’Urgell, Puigcerdà e Castellbò. O encontro mantém convênios de colaboração mútua com os festivais Carrefour Mondial de l’Accordeón, do Quebec, e Ivan Malinin de Novosibirsk, na Sibéria. Sobre a edição deste ano, o presidente da Òminum Cultural, Xavier Antich, publicou um tuíte do qual exaltava uma das noites “gloriosas” do encontro em Arsèguel. “São 46 anos recuperando a memória musical de uma terra e da sua gente e assegurando uma nova vida ao acordeão diatônico“, exaltou.

ABERTURA – O ato inaugural do encontro de acordeonistas aconteceu na manhã de 28 de julho em La Seu d’Urgell com a apresentação de artistas da Suécia, Moldávia, Peru e Quebec, franqueado ao público. À noite, na mesma cidade, houve concerto pago com os artistas da Espanha (Catalunha, Castilha e León), Itália e Rússia.

No sábado 29, a programação seguiu em Arsèguel com apresentações gratuitas no pátio da igreja, às 12h e às 19h, com músicos da Espanha (Catalunha, País Valenciano e País Basco). E à noite com concerto com artistas da Espanha (Catalunha e Aragão), Itália, Finlandia, Rússia, Argentina, Irlanda, Quebec, Peru, Suécia e Portugal. Ao final, a festa continuou no pátio da igreja.

Aquí volto ao concerto de domingo, 30 de julho, com o qual começo este texto, gratuito, no pátio da igreja de Arsèguel. Tudo estava muito bem organizado. Os visitantes, que eram muitos, eram orientados a seguir com seus carros aos estacionamentos. Havia serviço de bares e restaurantes, banheiros químicos, barracas de bebidas e comidas, venda de CDs e exposição e venda de instrumentos. O evento se estendeu até o 1º de agosto, com concertos em La Seu D’Urgell, às 12h e às 19h.

Museu do Acordeão em Arseguel
Museu do acordeão em Arseguèl, fundado em 1998, guarda registros históricos sobre o instrumento

ARSÈGUEL – Aproveitei para caminhar pelas ruas estreitas do pequeno povoado que abre vistas espetaculares para as montanhas que o rodeiam, espetaculares para fotos. Uma opção interessante é visitar o Museu do Acordeão, criado em 1988 e que guarda registros importantes sobre o instrumento e a sua história na região.

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