Acusação de terrorismo contra independentistas catalães naufraga por falta de provas

Dois dos sete presos em setembro passado na Catalunha foram soltos hoje por falta de comprovação de que tinham ou manipulavam explosivos para cometerem atentados

Imagem de declaração de Alexis Codina, solto hoje por falta de prova de que tivessem em seu poder material explosivo

Na terça-feira, 23 de setembro de 2019, os meios de comunicação espanhóis passaram o dia noticiando a prisão de sete independentistas, em cidades diferentes da Catalunha, acusados pela Guarda Civil de terrorismo. Era o desfecho da “Operação Judas”, que acusava membros dos Conselhos em Defesa da República (CDRs) de estarem planejando um atentado a bomba. Hoje, dois deles – alexis Codina e Ferran Solis – foram soltos mediante fiança pela Audiência Nacional por falta de provas, colocando a ação policial em xeque.

Com as duas liberações, já são cinco os soltos dos presos desde setembro, quando a polícia irrompeu com violência suas casas, arrobando portas, aterrorizando familiares dos detidos, entre eles crianças e idosos. Foi o começo de uma campanha midiática e política para criminalizar o movimento independentista, na qual se ligava cidadãos comuns a planos de atentados e sabotagens.

Germinal Tomàs, Jordi Ros, Alexis Codina. Ferran Jolis, Xavier Duch, Eduard Garzón e Txevi Buïgas foram taxados de violentos e de terem em seu poder explosivos de alta periculosidade. Na sequência, o atual presidente da Catalunha, Quim Torra, e o ex-presidente Carles Puigdemont, foram colocados sob suspeita de estarem envolvidos no plano do suposto ataque dos CDRs.

As manchetes dos jornais impressos no dia seguinte destacavam o caso. “O Ministério Público acusa nove independentistas de preparar atentados”, dizia La Vanguardia, enquanto El Periódico titulava “Detidos nove membros dos CDR por terrorismo”, ambos jornais sediados em Barcelona. O El país, com sede em Madri, veio com a machete: “O juiz detém por terrorismo a nove CDR”, enquanto El Mundo dizia: Os CDR ultimavam um atentado terrorista em Catalunha no dia “D”. La Razón afirmava: “Os CDR de Torra apertam: iam atacar um quartel com explosivos”.

A dia D se referiam à data que era esperado o anúncio oficial por parte do Tribunal Supremo da Espanha (TS) do resultado do julgamento dos líderes políticos e ativistas catalães presos por conta do processo independentista de 2017. Que foram condenados a penas que somam mais de cem anos de prisão em 14 de outubro passado, gerando uma sequência de protestos na Catalunha, mas com atuação mais violenta por parte da polícia do que dos manifestantes.

Boa parte dos meios de comunicação aproveitaram o caso para atacar o movimento independentista e acusá-lo de amparar e justificar ações violentas. Com o passo dos dias, informações do processo, que corre em segredo de justiça, foram filtrados para jornais, rádios e TVs. Foi divulgado que estavam prontos para assaltar o Parlamento da Catalunha, assim como os principais quartéis da Guarda Civil na Catalunha. Assegurava-se que tinham um plano B para atuar de forma imediata em caso de problemas. Uma destas machetes foi reproduzida pelo jornalista Francesc Serés em sua conta do Twitter, classificado como exemplo “jornalismo lixo”.


O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, acusou o presidente catalão, Quim Torra, de apoiar a violência, ao qual os meios de comunicação afirmava que havia tido reuniões secretas com os detidos. O então líder do partido Cidadãos, Albert Rivera, assegurou que os detidos tinha Goma-2, uma substância altamente explosiva. Na soltura dos dois CDR hoje soube-se que a liberação se deu exatamente porque a Guarda Civil não conseguiu comprovar que os acusados tivessem ou manipulassem explosivos. A notícia gerou protestos nas redes sociais, com jornalistas, políticos, ativistas e gente comum pedindo descriminalização do movimento e desculpas aos implicados. Quim Torra pediu retratação a Sánchez por tê-lo acusado de amparar a violência.


Contudo, diferente de setembro, os mesmos noticiários esconderam ou simplesmente ignoraram a soltura por falta de provas. Durante estes meses, os presos ficaram em celas sem comunicação com os demais detentos de Soto del Real, em Madri. Nos primeiros dias, inclusive não puderam fazer contato com suas defesas, que informaram que foram submetidos a tortura durante dos depoimentos. Algumas destas capas podem ser acessadas em matéria intitulada “De Rivera a La vanguardia, as mentiras mais escandalosas publicadas contra os CDR“,  pelo jornal digital catalão, que faz um comparativo da cobertura midiática de setembro e de agora, sendo bastante replicada no Twitter, como mostra o tuíte do professor alemão Thomas G. Schulze. Um bom exemplo jornalístico, no caso de Vilawe, claro.

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