Revista dignifica memória de mulheres executadas na Catalunha acusadas de bruxaria

Campanha “Não eram bruxas, eram mulheres” da revista Sàpiens resgata memória de mil mulheres acusadas de feitiçaria na Catalunha nos séculos XV e XVIII

Não eram bruxas, eram mulheres (#NoErenBruixes). Este é o título da campanha que a revista Sàpiens, editada na Catalunha, lançou com o objetivo de dignificar a memória das mulheres acusadas de feitiçaria durante os séculos XV e XVIII. Neste período histórico, mil mulheres foram julgadas e executadas na Catalunha por serem consideradas bruxas. O lançamento aconteceu no sábado (06), no Palau Robert, em Barcelona, ​​com a participação dos historiadores Agustí Alcoberro, e Pau Castell, responsáveis pela investigação.

Além de dedicar a edição impressa e on-line de março ao tema, a campanha conta com um vídeo vídeo estrelado por várias mulheres do mundo da cultura tratando sobre a temática.

Sàpiens também editou um atlas da caça às bruxas que inclui um mapa interativo único e mais de 700 arquivos inéditos com informações sobre mulheres acusadas e executadas por bruxaria. A publicação inclui um manifesto de reivindicação da memória destas mulheres, que juntamente com a campanha já conta com o apoio de 150 historiadores e mais de 7 mil signatários.

AUGUSTI ALCOBERRO
Augustí Alcoberro no lançamento da campanha #NoErenBruixes (Anna Grau/Twitter)

Agustí Alcoberro e Pau Castell identificaram com nomes e sobrenomes mais de 700 mulheres que foram executadas por feitiçaria na Catalunha. As vítimas da perseguição eram, em sua maioria, idosas, mulheres pobres, sem parentes ou amigos que as pudessem sustentar. Foram acusados ​​de feitiçaria, crime inexistente que foi legislado pela primeira vez na Europa, no Vall d’Àneu, no ano de 1400. Assim começaram 300 anos de perseguição com mil mulheres condenadas na Catalunha, local com mais vítimas na península ibérica.

“A misoginia e o sistema patriarcal foram os principais culpados, mas não os únicos, da caça às bruxas. Seja por ação ou omissão, toda a comunidade estigmatizou as rés”, explicam Agustí Alcoberro e Pau Castell. A diretora de Sàpiens, Clàudia Pujol, declarou que os números de casos na Catalunha são dolorosos. “Pela primeira vez pudemos nomear toda essa barbárie”.

Nomes denunciados, paradoxalmente, não pela Inquisição, mas pelos moradores dos territórios mais descentralizados. Segundo Alcoberro, na região a Inquisição não era muito poderosa, mas por outro lado os tribunais locais tinham muitos poderes. “O que tornava a caça às bruxas particularmente cruel”, explica.

MAPA INTERATIVO – A caça às bruxas pode ser consultada no mapa on-line, que inclui um atlas interativo com as localizações e nomes das mulheres perseguidas, e que contém 700 fichas inéditas. Segundo os autores, é o material mais completo sobre os julgamentos de bruxas realizados nos séculos XV e XVIII na Catalunha e em Andorra, mostrando pela primeira vez os eventos, anos e lugares onde ocorreram, bem como as pessoas e instituições envolvidas. Há também os espaços de encontros diabólicos, as cartomantes e os julgamentos da Inquisição de Barcelona, ​​para diferenciá-los dos demais, que foram realizados por tribunais seculares.

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