Testemunho implacável: Dia Internacional da Memória do Holocausto

*Por Cesar Vanucci

As Testemunhas de Jeová deixaram com a posição assumida, no campo de concentração nazista, um testemunho de heroísmo e estoicismo invulgares”. (Antônio Luiz da Costa, educador)

Marcus Vinícius Leite, porta-voz Regional do movimento religioso “Testemunhas Jeová” encaminha-me mensagem lembrando que 27 de janeiro é o Dia Internacional da Memória do Holocausto. Milhares de pessoas no mundo todo prestaram, na data citada, homenagens à memória das vítimas do terror nazista.

É pouco conhecido e divulgado o fato de as “Testemunhas de Jeová” terem sido o único grupo religioso perseguido apenas por sua crença pelo III Reich. O regime Hitlerista taxou-os como “inimigos do estado”, por sua recusa pública em aceitar as ideias esposadas pelos adeptos da sinistra suástica.

Tempos atrás, neste mesmo acolhedor espaço, foram estampados dois artigos de minha autoria alusivos ao assunto. Tomo a liberdade de reproduzi-los nas edições de hoje e da próxima terça-feira.

Retiro dos arquivos pessoais a narrativa de um acontecimento fantástico, ocorrido nos tenebrosos tempos nazistas, num dos campos de concentração espalhados pelo continente europeu. Vou aqui recontá-la, dividindo o relato em dois momentos.

Muitas coisas relevantes, intrigantes, registradas em livros e outras publicações acabam ficando perdidas no torvelinho das informações liberadas para o conhecimento humano. Assim tem sido desde sempre. Mas, nesta era moderna de comunicação eletrônica massiva e sofisticada, responsável pela expansão contínua, numa velocidade estonteante, do volume de dados ofertados à consulta do distinto público, a incidência de fatos e flagrantes de vida expressivos, encobertos pelas névoas do desconhecimento ou do esquecimento, assume dimensões incalculáveis. Um mundão de revelações valiosas fica à deriva do conhecimento geral. Permanece oculto das atenções numa página qualquer de um livro empoeirado numa estante silenciosa.

Em “O homem invisível”, H.G.Wells, um baita contemporâneo do futuro, registra que “nesses livros poeirentos (…) existem maravilhas e milagres”. Jacques Bergier e Louis Pauwels, autores do fabuloso “O despertar dos mágicos”, e outras esplêndidas obras, dão razão a Wells quando admitem, prazerosamente, que os livros científicos, as revistas científicas, entre outras publicações, estão realmente repletos de maravilhas. Basta que nos fixemos no trabalho de procurá-las. Ando fazendo isso com alguma frequência. O propósito é compartilhar, de vez em quando, com os benevolentes leitores algumas coisas interessantes não devidamente divulgadas, ou insuficientemente conhecidas, quando não completamente ignoradas.

Aqui temos, como fruto desta bem intencionada empreitada, um relato incrível, fantástico, extraordinário a respeito da atitude de singular desassombro assumida, em circunstâncias terrivelmente amedrontadoras, diríamos mais, aterrorizantes, por um punhado de intrépidos adeptos de um respeitável movimento religioso, “Testemunhas de Jeová”. A história é contada, em seus impactantes detalhes, pelo já citado Jacques Bergier.

O autor foi testemunha ocular dos fatos, acontecidos na primavera de 1944 no campo de concentração de Mauthausen. O pensador francês encontrava-se encarcerado naquele antro de horror devido à sua condição de judeu. Uma das milhões de vítimas das atrozes perseguições promovidas pelos milicianos das “camisas-pardas”. Os guardiães do sinistro lugar receberam, de certa feita, não escondendo sua estupefação, uma leva de prisioneiros fora do comum. Eles reivindicavam (e foram atendidos pelas autoridades alemãs) acolhimento, como “reclusos voluntários”, com todas as “regalias” inerentes à terrível condição, num campo de extermínio dos muitos criados na época pela paranoia hitlerista.

Os desdobramentos dessa história são espantosos, comoventes, inacreditáveis. Ficam para artigo que virá na sequência.

“Houve um engano. Mandarei soltá-los imediatamente”. (Ziereis, impiedoso chefe de campo de concentração, para os prisioneiros “voluntários”)

 Retomemos a narrativa iniciada no artigo anterior. Como informado, com base em depoimento do escritor Jacques Bergier, coautor de “O despertar dos mágicos”, os carcereiros do sinistro campo de concentração nazista “Mauthausen”, comandado por um “camisa parda” chamado Ziereis, tomaram-se de espanto quando, na primavera de 1944, pouco antes do término da Segunda Guerra Mundial, receberam inesperadamente uma leva numerosa de ”prisioneiros  voluntários”, todos eles integrantes da respeitada corrente religiosa “Testemunhas de Jeová”.

Jacques Bergier toma a palavra: “Como todo mundo na Alemanha – ao contrário do que se afirmou depois – sabia o que se passava nos campos de concentração, esta atitude (dos adeptos da referida corrente religiosa) era, no mínimo, surpreendente. Por isto, Ziereis, o “fuhrer” do nosso campo, tratou de interrogá-los logo. Ficamos sabendo bem depressa o que se passava. Os recém-chegados declararam: – Somos “Testemunhas de Jeová”. Disseram-nos que aqui são cometidos crimes. Queremos ser testemunhas diretas disto e, no dia do Juízo, colocados à direita de Deus, lhe prestaremos, pessoalmente, conta do que vimos.”

Bergier acentua, nesta parte da narrativa, que o empedernido chefe nazista, homem que parecia não ter medo de nada, estremeceu diante do depoimento ouvido. Disse às “Testemunhas de Jeová” enfileiradas diante dele: – Houve um engano. “Mandarei soltá-los imediatamente”.

O que sobreveio na sequência só fez aumentar a estupefação dominante. Fitando o temido carcereiro, os “prisioneiros voluntários” puseram-se a gritar em coro palavras ofensivas a Hitler e ao nazismo. Entre outras: “Morte a Hitler!” “Que morra este porco!”

Bergier completa o relato do incrível episódio: “Não houve escolha, tiveram que ficar no campo. Morreram todos no crematório. Contudo, não gostaria de estar no lugar de Ziereis – que abati pessoalmente no dia da Liberação – quando tiver que prestar esclarecimentos diante do Todo-Poderoso.”

A história que fala desse posicionamento destemido de membros das “Testemunhas de Jeová”, frente às atrocidades cometidas nos campos de concentração, acha-se inserida num dos capítulos do livro “Passaporte para uma outra Terra”. O capítulo tem por subtítulo “Os Imortais”. Os comentários expendidos pelo autor contemplam a hipótese da imortalidade física. A inserção das “Testemunhas de Jeová” no contexto decorre de uma crença alimentada por membros do movimento religioso, segundo a qual alguns seres imortais, com missão espiritual importante, já estariam habitando este nosso planeta.

Não resisto, à tentação de inserir aqui outro trecho do texto de Jacques Bergier alusivo ao instigante tema da imortalidade. Diz ele: “Faço questão de deixar bem claro que não quero zombar das Testemunhas de Jeová. Ora, elas afirmam que já vivem entre nós 144.000 Imortais. Esta tradição de Imortais entre nós é muito antiga. Já na China se falava da Ilha dos Imortais onde se podia encontrar alguns sábios do passado. Em todas as civilizações, a tradição de uma pequena minoria de Imortais vivendo entre nós é fundamental. A lenda mais famosa neste domínio é, evidentemente, a do Judeu Errante.”

Acrescento hoje ao texto lançado anos atrás a informação de que as “Testemunhas de Jeová” recusavam-se, nos tempos do nazismo a fazer a saudação imposta pelo governo (Heil Hitler), a participar de atos racistas e a se alistarem nas Forças Armadas do exército alemão. Das “Testemunhas” era exigido que renegassem sua fé. Elas eram ameaçadas com severas punições caso se negassem a assinar documento denominado como “Erklärung”. O documento em questão livrava-as da execução. A quase totalidade dos membros da comunidade perseguida não renunciou às suas convicções pagando com a vida a atitude heroica assumida.

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